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Apresentação de pesquisa no Congresso Acadêmico Unifesp

Atualizado: 12 de jul. de 2023


A presente pesquisa investiga as formas de ocupação estética que ocorrem no espaço urbano a partir das ações dos artistas de rua e demais agentes da cidade. O território para o desenvolvimento da pesquisa, envolve a estrutura do Elevado Presidente João Goulart, conhecido como Minhocão, e seu entorno, localizado no centro da cidade de São Paulo/SP. A via para carros de 2,8km que corta o centro da cidade, se configura como uma estrutura de concreto e ferro que possui outras funções e usos da sociedade. O Minhocão é um espaço em disputa, desde sua construção nos anos 1970, para atender interesses políticos, econômicos e sociais que estacionam e se penduram na estrutura, refletindo diversos problemas de um Brasil que ainda não superou diversos traumas históricos. O viaduto divide a região central em dois níveis: quando se caminha embaixo dele trata-se de um lugar de trânsito de veículos e pessoas, em sua maioria apressadas e de passagem, chegando ou saindo dos bairros, para outros locais da cidade. Um local poluído, abrigo para pessoas em situação de rua e acúmulo e exposição das desigualdades sociais da cidade. Durante os dias de semana de trabalho, no piso superior, ele também serve para o mesmo propósito de passagem. Entretanto, aos finais de semana e feriados o espaço se transforma em cima. Andaimes de escadas propícios para o acesso de pedestres são liberados, grades mais altas que as muretas para proteção tanto de carros quanto de pessoas foram instaladas por toda sua extensão, arquibancadas e decks servem de local para as pessoas sentarem e jogos são colocados livremente para fruição das pessoas. Esse universo em cima e embaixo, em dias de semana de trabalho e finais de semana e feriados evidenciam diferenças sociais e acumulam memórias coletivas que por vezes se dissipam na mesma velocidade em que são construídas, permanecendo em resistência as imagens nas paredes, empenas, no chão e nos postes, criando outras leituras do lugar. A dinâmica que se estabelece faz com por vezes o Minhocão seja ora um local repulsivo em cores, cheiros e barulho ora amigável e confortável para uma leitura, um descansar e local de impressão de memórias da cidade. A arquitetura pode trazer lembranças e imersões que geram relatos para além da estrutura e da matéria inanimada e permanecem por alguma atribuição de valor. Nesses mais de 50 anos de permanência dele na cidade, ele se tornou depositório de imagens, cenário e projetor de histórias individuais, políticas e sociais. O objeto arquitetônico em destaque envolve esse processo de personalização estética para unir concreto e pessoas. A análise contribui para o desenvolvimento da arte contemporânea, seus materiais, utilizações e fronteiras. Como tencionar uma análise em que a plataforma de expressão se encontra em disputa pelo direito de ser ocupada e de existir?


Enquanto as colunas embaixo são ocupadas grafites, pichações e intervenções das mais diversas, nas empenas dos prédios grafites imensos embelezam o espaço e necessitam de recursos, autorização e estrutura para realização. O recorte abrange as estruturas que sustentam e emolduram essa parte da cidade. A pesquisa em busca fazer uma seleção de alguns desses 111 espaços/paredes ocupados e, a partir deles, analisar a formação e permanência dessas imagens e sua influência para revitalização ou desvalorização do centro de cidade. A região, seus habitantes e visitantes convivem em conflito entre as inúmeras formas de ocupação e especulação: mercado imobiliário, o turismo e relações sociais diversas, pontos de comércio, de produção de conteúdo artístico e cultural, uma população em ascensão econômica ao lado de pessoas em situação de rua (homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos), uma região que possui em seu entorno um lugar móvel chamado de Cracolândia, pessoas cometendo pequenos assaltos individualmente ou em grupo, trabalhadores das periferias da cidade que se deslocam pela região. O que antes era apenas concreto, ferro, tinta branca, areia, continua sendo concreto, ferro, tinta branca e areia, mas também é história, fluidos corporais, sol, chuva, lembranças que se misturam e são acionadas de acordo com o disparador de cada um, fazendo com que a estrutura fixa possa ser vestida e revestida durante esses mais de 50 anos de permanência no centro de São Paulo. Para compreender sua função no território é necessário investigar como e quais motivos levam artistas a utilizar desse local de expressão. Mas, considerando que se trata de um território em disputa, onde diversas instituições públicas, privadas e a população em geral operam sobre ele, a investigação dos grafites e sua condição de sustentação e moldura auxiliam a delimitação do espaço para investigação. O passar do tempo faz que ele acumule lembranças e significados para as pessoas que habitam a capital, principalmente a região e fazem com o que ele permaneça no tempo de hoje.


A apresentação da pesquisa será durante a sessão 3453 de 23/06/2023 das 14h00 às 15h30 no Campus da Unifesp de Guarulhos. Mais informações: Unifesp - Congresso Acadêmico 2023


O vídeo poster na íntegra disponível no Youtube



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